Poems

poetas, alguns nomes

quando marina tsvetaeva escreveu a
rainer maria rilke, ele tinha morrido
havia poucos dias. tornara-se
o poeta emigrado lá no reino

onde a leitura é um puro contacto da alma
e nenhuma mulher o sustentava.
imagina-se a carta: podia ser em cirílico,
terminando, como essenine, num patético

do svidania, drug moi, do svidania.
imagina-se rilke, rindo silenciosamente sob
a terra, e a pensar: estas gajas, imagina-se
a resposta que ele teria dado.

tratando-a por madame (fúrstin seria um exagero) e
falando obliquamente de rosas e anjos, volúpias de
outono, falta de dinheiro, e de gaspara stampa,
com muito tacto e delicadeza, o entusiasmo, o falhanço,

viriam depois, com algumas parvoíces sobre rodin
e belas frases sobre a solidão, porque se
a questão maior da poesia ocidental
foi sempre o exílio, esse foi também

o seu erro maior, por vezes uma
elegância emigrée, uma dissidência da fala,
dissimulava as coisas num arabesco amorosamente cultivado
sobre as estranhezas dos parceiros, afinal seres humanos.

tudo isso era muito arte nova, um capricho decorativo a ir
mais fundo na existência, às verdades agónicas, a dizer-nos
o que não estava no mundo, mas no poder
metafórico das almas, misturado com terra e anaximandro